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Lamentações 3 - Almeida Revista Atualizada 1993

Convidado o povo a reconhecer o seu pecado

1 Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus.

2 Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz.

3 Deveras ele volveu contra mim a mão, de contínuo, todo o dia.

4 Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, despedaçou os meus ossos.

5 Edificou contra mim e me cercou de veneno e de dor.

6 Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estão mortos para sempre.

7 Cercou-me de um muro, e já não posso sair; agravou-me com grilhões de bronze.

8 Ainda quando clamo e grito, ele não admite a minha oração.

9 Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas.

10 Fez-se-me como urso à espreita, um leão de emboscada.

11 Desviou os meus caminhos e me fez em pedaços; deixou-me assolado.

12 Entesou o seu arco e me pôs como alvo à flecha.

13 Fez que me entrassem no coração as flechas da sua aljava.

14 Fui feito objeto de escárnio para todo o meu povo e a sua canção, todo o dia.

15 Fartou-me de amarguras, saciou-me de absinto.

16 Fez-me quebrar com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza.

17 Afastou a paz de minha alma; esqueci-me do bem.

18 Então, disse eu: já pereceu a minha glória, como também a minha esperança no Senhor.

19 Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno.

20 Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim.

Esperança de auxílio pela misericórdia de Deus

21 Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.

22 As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;

23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.

24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.

25 Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca.

26 Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio.

27 Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade.

28 Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele;

29 ponha a boca no pó; talvez ainda haja esperança.

30 Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta.

31 O Senhor não rejeitará para sempre;

32 pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias;

33 porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens.

34 Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra,

35 perverter o direito do homem perante o Altíssimo,

36 subverter ao homem no seu pleito, não o veria o Senhor?

37 Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?

38 Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem?

39 Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.

40 Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o Senhor.

41 Levantemos o coração, juntamente com as mãos, para Deus nos céus, dizendo:

42 Nós prevaricamos e fomos rebeldes, e tu não nos perdoaste.

43 Cobriste-nos de ira e nos perseguiste; e sem piedade nos mataste.

44 De nuvens te encobriste para que não passe a nossa oração.

45 Como cisco e refugo nos puseste no meio dos povos.

46 Todos os nossos inimigos abriram contra nós a boca.

47 Sobre nós vieram o temor e a cova, a assolação e a ruína.

48 Dos meus olhos se derramam torrentes de águas, por causa da destruição da filha do meu povo.

49 Os meus olhos choram, não cessam, e não há descanso,

50 até que o Senhor atenda e veja lá do céu.

51 Os meus olhos entristecem a minha alma, por causa de todas as filhas da minha cidade.

52 Caçaram-me, como se eu fosse ave, os que sem motivo são meus inimigos.

53 Para me destruírem, lançaram-me na cova e atiraram pedras sobre mim.

54 Águas correram sobre a minha cabeça; então, disse: estou perdido!

55 Da mais profunda cova, Senhor, invoquei o teu nome.

56 Ouviste a minha voz; não escondas o ouvido aos meus lamentos, ao meu clamor.

57 De mim te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas.

58 Pleiteaste, Senhor, a causa da minha alma, remiste a minha vida.

59 Viste, Senhor, a injustiça que me fizeram; julga a minha causa.

60 Viste a sua vingança toda, todos os seus pensamentos contra mim.

61 Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus pensamentos contra mim;

62 as acusações dos meus adversários e o seu murmurar contra mim, o dia todo.

63 Observa-os quando se assentam e quando se levantam; eu sou objeto da sua canção.

64 Tu lhes darás a paga, Senhor, segundo a obra das suas mãos.

65 Tu lhes darás cegueira de coração, a tua maldição imporás sobre eles.

66 Na tua ira, os perseguirás, e eles serão eliminados de debaixo dos céus do Senhor.

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