Resposta
O ugarítico era um idioma antigo falado na cidade de Ugarite (na costa mediterrânea da Síria) contemporaneamente a muitos dos eventos do Antigo Testamento. O conhecimento adquirido por meio das escavações da cidade e da língua (uma língua semítica semelhante ao hebraico antigo) nos proporcionou uma compreensão mais aprofundada de alguns aspectos da cultura e da adoração cananeia, além de nos auxiliar na compreensão de algumas palavras do hebraico antigo que eram de difícil tradução.
Considerando que o Antigo Testamento é um livro antigo, distante da linguagem e da cultura modernas, há muitas coisas que os ouvintes originais presumiriam ou entenderiam e que estão perdidas para nós. Embora nossas traduções modernas sejam de alta qualidade, um maior conhecimento sobre a cultura antiga nos proporcionará uma compreensão mais clara do significado do texto. Não estamos sugerindo que o texto das Escrituras seja incompreensível sem um amplo conhecimento do idioma e das culturas antigas, mas esse conhecimento contribui para preencher lacunas. Podemos comparar essa situação a assistir a um filme em uma televisão colorida em vez de um aparelho preto e branco.
Em 1928, um fazendeiro na Síria estava arando seu campo quando descobriu uma tumba antiga. Dentro dela, encontrou alguns objetos de valor, que vendeu. Posteriormente, a notícia da descoberta se espalhou e o local, agora conhecido como Ras Shamra, foi devidamente escavado, revelando a antiga cidade de Ugarite. Entre os artefatos descobertos estavam tábuas cuneiformes escritas em um idioma semítico semelhante ao hebraico. Por meio de técnicas de tradução e da comparação com o hebraico, os estudiosos conseguiram decifrar os tabletes, resultando em uma das maiores descobertas literárias do mundo.
A maioria das tábuas contém poesia, e grande parte dessa poesia relata mitos sobre o deus principal da cidade, Baal. Essa literatura revela crenças e práticas relacionadas à adoração de Baal. Ao compararmos a poesia de adoração de Ugarite com os Salmos hebraicos, descobrimos quêE muitas vezes há semelhanças impressionantes. O povo de Ugarite geralmente atribui a Baal o que o povo de Israel atribui a Yahweh. Por exemplo, a literatura ugarítica revela que Baal era considerado o deus do trovão e da tempestade, mas o Salmo 29 atribui a Deus a criação de tempestades. É como se Davi estivesse dizendo: “Vocês, povos cananeus, atribuem esse poder a Baal, mas nós sabemos que é realmente Yahweh quem controla a tempestade”. Os salmos bíblicos eram, portanto, mais do que canções isoladas de louvor, mas podem muito bem ter sido polêmicos também.
A descoberta do ugarítico nos ajuda a entender melhor o incidente com Elias no Monte Carmelo. O rei Acabe e o povo estavam adorando Baal, mas esse falso deus não conseguia produzir chuva para a terra – não havia chovido por três anos, como Elias, o profeta de Yahweh, havia declarado. O pronunciamento de Elias continha um confronto implícito entre Baal e Yahweh. No Monte Carmelo, Yahweh respondeu com fogo (relâmpago?) para queimar o sacrifício de Elias e até mesmo as pedras do altar, mostrando-se soberano sobre o reino de Baal. Então, somente depois que os profetas de Baal foram mortos, Deus enviou chuva (consulte 1 Reis 17-18). Podemos entender a história sem saber nada sobre Baal, exceto que ele era um deus rival, mas as informações de fundo colhidas da poesia ugarítica preenchem nosso entendimento e como o povo de Israel pode ter se sentido em relação ao evento.
Há alguns lugares no Antigo Testamento em que os tradutores não têm certeza sobre o melhor significado de certas palavras. A comparação do hebraico com o ugarítico às vezes dá mais contexto a essas palavras e nos permite obter uma compreensão mais clara do significado.
Por exemplo, em Amós 1:1, Amós é descrito como “entre os pastores de Tecoa”. A palavra hebraica para “pastor” não é a normalmente usada, e havia alguma incerteza entre os tradutores sobre o significado exato do termo. Em ugarítico, a palavra equivalente significa “gerente ou proprietário de grandes rebanhos de ovelhas”.Elas”. Portanto, Amós provavelmente não era apenas um pastor pobre ou um “fazendeiro de terra” sem instrução, como é frequentemente retratado em sermões. Ele provavelmente era um homem de negócios abastado. Não há nada aqui que mude o significado do texto, mas isso nos dá uma visão melhor de quem era Amós. Quando ele obedeceu ao Senhor e foi ao reino do norte para pregar, pode ter desistido (ou pelo menos arriscado) de um meio de vida significativo. E quando Amós denuncia a injustiça social em Israel, ele o faz como um dos que “têm”, não como um dos que “não têm” (veja Amós 1:6-7).
Em Juízes 5:17, a tribo de Dã é repreendida por não ter vindo ajudar Débora e Baraque a derrotar os amalequitas: “E Dã, por que se deteve com seus navios?” Essa pergunta retórica é um tanto confusa, pois Dã não tinha nenhum território à beira-mar e não era conhecida por usar navios. Em comparação com o ugarítico, descobrimos que a palavra traduzida como “navios” também pode significar “estar à vontade”. Portanto, faz mais sentido, no contexto, traduzir a frase dessa forma: “E Dã, por que ele ficou à vontade?” O significado básico não é alterado – Dã não veio em auxílio de Israel quando necessário -, mas as circunstâncias são esclarecidas. Dã permaneceu “à vontade”, não “em navios”.
A descoberta do ugarítico nos ajuda a entender melhor a cultura e a linguagem do Antigo Testamento. Ela não altera o significado essencial de nenhum texto das Escrituras, mas pode lhe dar mais “cor”.
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